segunda-feira, 26 de março de 2007
AMALA E KAMALA: as meninas-lobo
O surgimento da Sociologia
Fatos sociais
Um exemplo simples nos ajuda a entender o conceito de fato social, segundo Durkheim. Se um aluno chegasse à escola vestido com roupa de praia, certamente ficaria numa situação muito desconfortável: os colegas ririam dele, o professor lhe daria uma enorme bronca e provavelmente o diretor o mandaria de volta para pôr uma roupa adequada.
Existe um modo de vestir que é comum, que todos seguem. Isso não é estabelecido pelo indivíduo. Quando ele entrou no grupo, já existia tal norma, e, quando ele sair, a norma provavelmente permanecerá. Quer a pessoa goste, quer não, vê-se obrigada a seguir o costume geral. Se não o seguir, sofrerá uma punição. O modo de vestir é um fato social. São fatos sociais também a língua, o sistema monetário, a religião, as leis e uma infinidade de outros fenômenos do mesmo tipo.
Para Durkheim, os fatos sociais são o modo de pensar, sentir e agir de um grupo social. Embora os fatos sociais sejam exteriores, eles são introjetados pelo indivíduo e exercem sobre ele um poder coercitivo. Resumindo, podemos dizer que os fatos sociais têm as seguintes características:
n generalidade – o fato social é comum aos membros de um grupo; n exterioridade – o fato social é externo ao indivíduo, existe independentemente de sua vontade; n coercitividade – os indivíduos se sentem obrigados a seguir o comportamento estabelecido.
Em virtude dessas características, para Durkheim os fatos sociais podem ser estudados objetivamente, como “coisas”. Da mesma maneira que a Biologia e a Física estudam os fatos da natureza, a Sociologia pode fazer o mesmo com os fatos sociais.
(Pérsio Santos de Oliveira, Introdução à Sociologia, São Paulo, Ática, 2000, p. 13.)
domingo, 25 de março de 2007
Uma Introdução a Sociologia
A professora Sonia Jobim do Colégio Estadual Almirante Frederico Villar disponibilizou na internet uma bem montada Apostila de Introdução a Sociologia. A iniciativa solidária da professora Sonia merece aplausos: parabéns!
Nela você encontra tanto uma narrativa sobre a constituição da sociologia como ciência, quanto um resumo do trabalho dos clássicos Comte, Durkheim, Weber e Marx.
Mais de Bertold Brecht
Bertolt Brecht nasceu em Augsburg, Alemanha, em 1898. Em 1917 inicia o curso de medicina em Munique, mas logo é convocado pelo exército, indo trabalhar como enfermeiro em um hospital militar. Aquele que iria se tornar uma das mais importantes figuras do teatro do século XX, começa a escrever seus primeiros poemas e cedo se rebela contra os "falsos padres" da arte e da vida burguesa, corroídas pela Primeira Guerra. Tal atitude se reflete já na sua primeira peça, o drama expressionista "Baal", de 1918. Colabora com os diretores Max Reinhardt e Erwin Piscator. Recebe, no fim dos anos 20, instruções marxistas do filósofo Karl Korsch. Em 1928, faz com Kurt Weill a "Ópera dos Trés Vinténs". Com a ascensão de Hitler, deixa o país em 1933, e exila-se em paises como a Dinamarca e Estados Unidos da América, onde sobrevive à custa de trabalhos para Hollywood. Faz da crítica ao nazismo e à guerra tema de obras como "Mãe coragem e seus filhos" (1939). Vítima da patrulha macartista, parte em 1947 para a Suiça — onde redige o "Pequeno Organon", suma de sua teoria teatral. Volta à Alemanha em 1948, onde funda, no ano seguinte, a companhia Berliner Ensemble. Morre em Berlim, em 1956.
Se os Tubarões Fossem Homens- Bertold Brecht
no dicionário de sociologia, sociologia
Sociologia: Uma grande diversidade caracteriza os objectivos e os métodos da sociologia. Ela apresenta-se como a própria génese da disciplina, a partir das tentativas de aritmética política de W. Petty nos sécs. XVII e XVII, dos quadros descritivos de J. P. Süssmilch, da matemática social de Condorcet. Esta diversidade é também patente entre os dois precursores, Montesquieu e J.-J. Rousseau, entre a ciência recentemente criada por A. Comte e a concepção que dela tem É. Durkheim. De chofre, a constituição da sociedade como objecto de análise provocou o aparecimento de múltiplos discursos sobre o carácter relativo, ou mesmo artificial, de enquadramentos sociais tidos até ao séc. XVIII como imutáveis e garantidos pela divina Providência.
A sociologia crítica, nomeadamente com a escola de Francoforte, encontra a sua origem no processo intentado pelos filósofos das Luzes à sociedade que eles intimaram a comparecer perante o tribunal da Razão. Após os abalos políticos do fim do século, a Revolução Industrial teve igualmente como efeito orientar a reflexão para a reorganização geral das disposições sociais. Este projecto "construtivista" inspirou no séc. XIX especulações de toda a espécie, umas ao lado da utopia, como em H. de Saint-Simon e sobretudo C. Fourier, outras apoiadas por uma filosofia da história do tipo da que foi formulada em 1936 por Comte na lei dos três estados.
A vontade de Marx de instituir uma sociedade sem classes tem igualmente a ver com esse desígnio de conjunto. Podemos, em última análise, ligar a esta visão global do social os trabalhos de Durkheim, de M. Weber e de V. Pareto. Nas suas obras, que constituem o corpus da sociologia clássica, são as grandes componentes e as principais tendências da sociedade moderna que são estudadas por vias diferentes, que se reúnem na integração sistemática de elementos tirados de todas as disciplinas constitutivas das ciências humanas: o direito, a história, a economia, a etnologia, etc.
Assim, num contexto duplamente marcado pelo positivismo de Comte e pelo evolucionismo de H. Spencer, os objectivos visados (a identificação de regularidades históricas, o enunciado das leis da evolução ou o estabelecimento de grandes relações funcionais) traduzem a preocupação de compreender o funcionamento da sociedade. Diferentemente das outras ciências, a sociologia não tinha de preocupar-se com delimitar o seu domínio de investigação.
Os trabalhos que incidem sobre questões nitidamente circunscritas não têm, no entanto, faltado no séc. XIX. Ao escolher estudar a democracia na América e depois o Antigo Regime e a Revolução, A. de Tocqueville escapava à urgência de uma "reorganização da sociedade europeia". Numa direcção inteiramente diferente, L. A. Quetelet aplicava-se a introduzir o número e a medida na ciência do homem. F. Le Play e os seus discípulos multiplicavam as monografias sobre pequenas unidades sociais. Estas pesquisas mostram bem a heterogeneidade dos quadros em que elas se inscrevem: a filosofia política, a sociologia quantitativa, a sociografia descritiva. Por razões que têm a ver com as suas orientações metodológicas ou ideológicas, exerceram menos influência que as filosofias sociais e os estudos gerais da sociedade.
O desenvolvimento destas últimas foi acompanhado de uma exigência de positividade e de objectividade que se viu satisfeita pelo recurso às ciências físicas ou biológicas para explicar os fenómenos sociais; daí derivam as metáforas mecanicistas e organicistas que abundam nas sociologias gerais. Por outro lado, a obsessão de afirmar a especificidade do social contra a singularidade subjectiva levou Durkheim a construir a sociologia fora de toda a referência à psicologia, tapando deliberadamente as vias fecundas abertas por G. de Tarde para a psicologia social. As vicissitudes, os falsos debates (indivíduo/sociedade) e as falsas querelas (qualitativo/quantitativo) que a sociologia conheceu, nomeadamente na França, devem relacionar-se com essas orientações primeiras. Devem sem dúvida ser tomadas em consideração, como fez P. Lazarsfeld, "as variações nacionais das acções sociológicas", assim como os constrangimentos institucionais e materiais a que estas últimas estão sujeitas. Mas nota-se em toda a parte uma partilha entre sociologia crítica e sociologia empírica, filosofia social e sociografia, pontos de vista especulativos e trabalhos descritivos. Também por todo o lado, ensaios e pesquisas distinguem-se pelo nível privilegiado - macrossociológico ou microssociológico -, o tipo de observação escolhido, a natureza dos indicadores retidos... Por todo o lado, enfim, o recorte, quer horizontal (por exemplo, a sociologia urbana) quer vertical (por exemplo, a mobilidade social), do terreno do sociólogo deu lugar a estudos especializados, sem que desapareça a procura de uma teoria geral, como testemunham T. Parsons e G. Gurvitch, etc. Numa época em que os media difundem informações que dão a cada indivíduo a ilusão de conhecer a sociedade em que vive, uma dupla advertência, histórica e metodológica, sobre o que é a sociologia se impõe.
Começou com a recapitulação dos contributos anteriores que integram as contribuições a que não se tinha prestado suficiente atenção (as de Tarde, de G. Simmel, de G. Mosca, por exemplo) e com a implementação de princípios explicativos claramente definidos, como os do individualismo metodológico conceptualizado por R. Boudon.
VALADE, Bernard. "Sociologia". no Dicionário de Sociologia de Raimond Boudon
Diretrizes e conteúdo programático da prova de sociologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
O programa aborda os principais eixos da Sociologia, como a explicação sistemática da vida em sociedade e, preservado seu caráter introdutório, procura estabelecer um vínculo entre os conceitos teóricos e as realidades a que se referem. A seqüência das unidades observa as necessidades inerentes à estrutura lógica da Sociologia e, ao mesmo tempo, o caráter histórico dessa ciência para resgatar algumas discussões clássicas nesse campo do conhecimento e contribuir, simultaneamente, para o esclarecimento de temáticas relacionadas com o contexto de vida dos alunos, ou seja, com a realidade social, cultural e política do Brasil contemporâneo.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
I __ Sociologia como Ciência.
_ A construção do saber sociológico: os clássicos.
_ Cultura e sociedade
1. Sociologia como autoconsciência da Sociedade:
- Breve histórico do surgimento da Sociologia.
-A concepção da sociedade segundo os clássicos da Sociologia.
2. Émile Durkheim e a teoria positivista da sociedade:
- Fato individual x fato social.
- A divisão do trabalho social.
- Solidariedade mecânica x solidariedade orgânica.
- Socialização.
- Coesão social e anomia.
- Normal e patológico.
- Consciência coletiva.
3. Karl Marx e a crítica da sociedade capitalista:
- Modo de produção: relações sociais de produção e forças produtivas.
- Infra estrutura e superestrutura.
- A contradição social como fundamento da realidade sócio-cultural.
- A produção social em função da lógica do capital: a mercantilização das relações sociais
4. Max Weber e a teoria compreensiva da sociedade:
- Ação social e relações sociais.
- Tipos de ação social.
- Racionalidade e não racionalidade das ações.
5. Cultura e Sociedade.
- Natureza e cultura:
.Conceito antropológico de cultura: a
desnaturalização dos costumes.
- Diversidade cultural:
. Etnocentrismo e relativismo cultural.
. Grupos étnicos-culturais.
. Preconceito e mito da democracia racial no Brasil.
- Cultura popular e cultura erudita:
. Características.
. A heterogeneidade da produção cultural.
- Indústria cultural:
. Cultura como mercadoria.
. Estandardização, homogeneização e passividade.
. Propaganda e consumismo.
. Banalização e descaracterização da produção cultural.
II __ Trabalho e produção social.
__ Participação política e movimentos sociais
1. Trabalho e produção social:
- Divisão do trabalho social; cooperação e solidariedade (Émile Durkheim).
- A produção social como produção de valor; ciência e tecnologia; desigualdade, alienação e conflito (Karl Marx).
- A ética do trabalho (Max Weber).
- As formas de gestão da produção social: taylorismo, fordismo e produção flexível.
- Globalização:
. Características econômicas, políticas, sociais e culturais.
. A inserção do Brasil na nova ordem em formação.
2- As relações políticas e Estado:
- O macro e o micro poder.
- Poder e dominação em Max Weber.
- Os conceitos sociológicos de Estado: monopólio legítimo da força (Max Weber); instrumento da classe dominante (Karl Marx); o Estado como instituição social (Émile Durkheim).
- Democracia e participação política:
. Democracia e autoritarismo.
. Democracia e desigualdades sócioeconômicas e culturais.
. Formas diretas e indiretas de participação política.
3- Movimentos Sociais:
- Conceito e características gerais dos movimentos sociais.
- Movimento operário e sindicalismo.
- Movimentos sociais contemporâneos:
. Os novos movimentos sociais: étnicos, sexuais, de gênero, religiosos, ecológicos, estudantis, rurais e urbanos.
- Movimentos sociais e cidadania.
Sugestões Bibliográficas
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ARANTES, A. A. O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 1986.
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BRANDÃO, A. C., DUARTE, M. F. Movimentos culturais de juventude. São Paulo: Moderna,
1999.
CHIAVENATO, J. J. O negro no Brasil. São Paulo: Moderna, 1991.
COELHO, T. O que é indústria cultural, São Paulo: Brasiliense, 1986.
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Paulo: Scipione, 2001.
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DIAS, E.; CASTRO, A. M. Introdução ao pensamento sociológico. Rio de Janeiro: Eldorado, 1981.
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Pioneira de Ciências Sociais,1992.Parte II, Cap. 5.
___________ Conceitos Básicos de Sociologia. São Paulo: Moraes, 1967.caps. 2- 7, 16 e 17.